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No dia 20 de abril de 2001, uma sexta-feira, por volta das 12 horas, uma mulher, usando um jaleco de enfermeira, ingressou no quarto 233 da maternidade do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos/SP, e pegou um bebê, dos braços de sua mãe, sob o pretexto de submetê-lo a exame de raio-X. A mãe, em seguida, levantou-se para acompanhar o exame, mas a suposta enfermeira já havia sumido com a criança.
O bebê Filipe tinha apenas 3 dias de vida e era o primeiro filho do casal Francineide Batista Lopes, de 26 anos, e Francisco Fernandes Dantas, de 31 anos. A mãe de nada suspeitou, já que o bebê, por ocasião do parto, sofreu deslocamento da clavícula e apresentava quadro de icterícia, necessitando assim de cuidados especiais.
A partir de então iniciou-se o drama da família e o trabalho policial. As investigações foram imediatamente iniciadas pelos policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais de Santos, e a única pista que possuíam, no início, era uma descrição genérica da sequestradora, tratando-se de uma mulher de cerca de 40 anos de idade, morena clara, cabelos encaracolados, e de aproximadamente 1,60 metros de altura. Providencias imediatas foram adotadas junto a aeroportos e rodoviárias do país, a fim de evitar que o bebê fosse levado para outro estado ou para o exterior.
Logo os policiais trataram de elaborar um retrato falado da falsa enfermeira, com as poucas informações das pessoas que a viram. Tanto o caso, como o retrato falado, foram amplamente divulgados na televisão e em jornais da região. Acreditavam os policiais que logo surgiriam denúncias anônimas quanto à identidade da sequestradora. Contudo, meses se passaram, e nenhuma informação relevante surgiu.
Uma página na internet foi criada, com informações sobre o caso e a sequestradora, fotos dos pais de Filipe quando crianças, bem como atribuindo uma recompensa para quem ajudasse com informações. Foram enviados mais de 500 mil e-mails para pessoas de todo o Brasil, solicitando que acessassem o site, imprimissem o retrato falado e afixassem em locais visíveis. Além disso, com auxílio da iniciativa privada, foram confeccionados mais de 22 mil cartazes e encaminhados a 8.105 cartórios de registro de pessoais naturais de todo o Brasil, além de postos de correios, hospitais, dentre outros órgãos.
Todas as informações recebidas foram verificadas, porém nenhuma delas levou ao esclarecimento do crime. Diversas diligências de campo foram realizadas em outros municípios, inclusive de outros estados, como Minas Gerais e Espírito Santo, no intuito de checar informações, também sem sucesso. Mesmo assim, quase três anos após o crime, os policiais civis jamais desistiram do caso e a família não perdeu a esperança de encontrar o filho.
Após a análise de mais de 500 certidões de nascimento de crianças supostamente nascidas em suas residências, em diversas comarcas do estado, a Polícia Civil de São Paulo chegou a um menino registrado no Guarujá com o nome de Alisson de Souza Santos. No dia 20/01/2004 os policiais civis foram a campo e localizaram a moradia em que vivia Alisson, em um morro na cidade de Guarujá/SP., juntamente com uma mulher que o criava como mãe legítima, identificada como Silvania Clarindo de Souza, de 37 anos.
A criança, registrada como Alisson, apresentava alguns elementos que levavam a crer que se tratava do bebê Filipe, subtraído na maternidade. Uma marca de nascença na nádega e o tipo sanguíneo coincidiam com o de Filipe. Além disso, uma radiografia revelou uma fratura consolidada na clavícula, osso este que havia sido fraturado por Filipe por ocasião de seu nascimento.
Silvania Clarindo de Souza confessou ser a autora da subtração do bebê Filipe, confirmando que aquele menino, Alisson, se tratava na verdade de Filipe.
A mãe verdadeira, Francineide, antes mesmo do resultado do exame de DNA, na ocasião do reencontro, já tinha a certeza que se tratava de seu filho Filipe: “O menino é a minha cara”, disse ela.
A investigação, entretanto, não acabava por aqui. Com Silvânia, outras crianças foram encontradas, suspeitando-se, em que pese afirmação contrária de Silvânia, de que não eram seus filhos legítimos. Dentre as crianças estava a que Silvânia registrou com o nome de Erik Henrique Souza do Nascimento.
Os policiais descobriram que, usando do mesmo expediente, no dia 28/02/1996 Silvânia, se passando por enfermeira, ingressou na maternidade do Hospital Santo Amaro, no Guarujá, e alegando que precisava fazer o “teste do pezinho”, retirou o recém-nascido Alexsandro dos braços da mãe, Ana Paula Vital. O exame de DNA confirmou que Érik, na verdade, se tratava de Alexsandro, filho de Ana Paula.
Outra menina, de nome Danieli, então com 14 anos de idade, que Silvânia criava como se fosse sua filha biológica, também gerou suspeitas nos policiais, que descobriram, após investigações, que Silvânia, utilizando-se da mesma forma de agir, subtraiu Danieli na maternidade do Hospital Guilherme Álvaro em 10 de dezembro de 1990, com apenas cinco dias de vida. A mãe legítima de Danieli foi identificada como sendo Márcia Aparecida Jeremias, que infelizmente não sobreviveu para reencontrar e abraçar sua filha, já que havia falecido em 29/07/1999. Os policiais civis conseguiram localizar os pais de Márcia na cidade de Curitiba/PR, e para lá se dirigiram, a fim de providenciarem os exames de DNA, cujos resultados confirmaram que Danieli era a filha de Márcia, subtraída da maternidade.
Silvânia foi condenada a quase 18 anos de prisão, pela subtração das crianças e por registrá-las como se fossem seus filhos legítimos. Por ocasião das sentenças, o Poder Judiciário considerou para majoração da pena, além do trauma gerado aos pais das crianças, família e às próprias crianças, a motivação de Silvânia para os crimes. Silvânia simulava gravidezes e falsos partos, em seguida enganava os homens com quem mantinha relacionamento, atribuindo-lhes a paternidade das crianças subtraídas, na tentativa de segurá-los e também receber deles ajuda econômica a título de pensão.